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Gravidez e Síndrome do Anticorpo Anti-fosfolípide (SAF)

A revista Fértil publicou recentemente uma reportagem com enfoque num tema ainda pouco divulgado e provavelmente desconhecido da maioria da população. Trata-se de uma doença autoimune chamada síndrome do anticorpo antifosfolipídeo (SAF), também conhecida como síndrome de Hughes. É um mal crônico, em que o organismo passa a produzir anticorpos que afetam a coagulação sanguínea, levando à formação de coágulos que acabam obstruindo a passagem de sangue nas veias e artérias. A revista trata particularmente da ocorrência da doença nas mulheres que têm dificuldade para engravidar e procuram tratamento específico.

Especialista nesses casos, o coordenador do Comitê de Vasculopatias da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), o reumatologista Roger A. Levy, explica que a SAF é uma causa importante de trombofilia adquirida e abortos repetidos. “Trombofilia quer dizer tendência a ter eventos trombóticos, ou seja, obstruções nos vasos sanguíneos”, esclarece o médico, acrescentando que as trombofilias adquiridas são aquelas em que não há um marcador genético conhecido, enquanto as congênitas são aquelas em que há um ou mais marcadores genéticos conhecidos.

Em geral, os sinais e sintomas da síndrome variam desde manchas esparsas na pele que aumentam no frio (livedo), tromboflebite, insuficiência cardíaca, microtrombose disseminada (trombos de vasos de pequeno calibre por todo o organismo) até embolia pulmonar maciça e outras formas de doença, enumera Levy, que, junto com outros médicos, montou um ambulatório de gestação de alto risco no Hospital Pedro Ernesto, da Uerj, onde atende, a cada semana, cerca de 20 pacientes com essa síndrome e outras doenças autoimunes.

Algumas mulheres só manifestam a SAF durante a gestação com perdas fetais de repetição ou outras manifestações gestacionais. Em tais casos, a trombose ocorre na placenta, prejudicando a ida do sangue até o feto, que, assim, tem seu desenvolvimento comprometido. Contudo, a perda fetal em função da SAF diagnosticada e não tratada não costuma ocorrer cedo na gravidez, diz Levy, mas, sim, entre 24 e 30 semanas. “Caso aconteça nas primeiras semanas, será preciso excluir outras hipóteses antes de chegar à conclusão de que se devem investigar os anticorpos de SAF”, sublinha o médico.

INFERTILIDADE

Considerando os casos de infertilidade, o coordenador da Comissão de Vasculopatias da SBR acha muito importante esclarecer que é ainda controversa a associação direta dessa condição com a presença dos anticorpos antifosfolipideos encontrados na SAF: “Na verdade, quase nunca a síndrome é responsável pela infertilidade, que tem muitas outras causas”, sustenta. “O que pode ocorrer é o obstetra submeter a paciente a exames que registram algum tipo de alteração diagnosticada erradamente como SAF e começar a tratar algo que não existe, o que configura um verdadeiro problema.”

Por outro lado, num caso de diagnóstico correto da doença, a gravidez é considerada de alto risco, envolvendo, portanto, alguns aspectos importantes quanto ao parto. Grávidas com SAF normalmente ficam ansiosas, preocupadas e tendem a querer marcar logo a data do parto. “Entre os obstetras, por sua vez, há muitas vezes a mesma tendência, mas isso é definido segundo um acompanhamento de cada gestação, que deve ser obrigatoriamente minucioso”, observa Levy, salientando que as gestantes diagnosticadas com SAF devem ter, além do ginecologista, a presença constante de um reumatologista, que participa estreitamente desse acompanhamento.

O tratamento adequado de grávidas com SAF aumentou os casos de sucesso da gestação de 20% para 80%, “embora as ocorrências de prematuridade, cesarianas e baixo peso ao nascimento permaneçam maiores do que na população em geral”, pondera Levy. A terapia envolve o emprego de heparina de baixo peso molecular (enoxaparina, dalteparina ou fraxiparina), associado ao ácido acetilsalicílico (AAS) infantil. O reumatologista salienta ainda que, diante da utilização prolongada da heparina – o que vale igualmente para não gestantes –, é importante usar suplemento de cálcio e vitamina D, tomar sol três vezes por semana durante 15 minutos e fazer atividade física, como caminhada, para evitar diminuição da densidade mineral dos ossos, a chamada osteopenia. Levy esclarece que a medicação não traz riscos nem para a mãe nem para o feto. “Após o nascimento, também não há problemas com os medicamentos durante o aleitamento materno”, adiciona.

Para quem não é gestante, o caminho é a terapia com anticoagulantes orais para o resto da vida, que consistem em inibidores da vitamina K. O tratamento deve ser monitorado por exames de sangue periódicos. Levy ressalta que é preciso cuidado com outras medicações eventualmente consumidas, pois existem inúmeras substâncias que podem alterar a ação dos anticoagulantes orais, reduzindo sua ação e aumentando o risco de um evento trombótico ou, então, elevando sua atividade e o risco de sangramento. “Neste último grupo, destacam-se a Aspirina e os demais anti-inflamatórios não hormonais, que devem ser evitados ou usados somente sob supervisão médica”, avisa o reumatologista. Como a lista de fármacos capazes de interferir nos anticoagulantes orais é extensa, ele recomenda consultar sempre o médico antes de utilizar qualquer um deles.

Embora a SAF não tenha cura nem possa ser evitada, Levy lembra que é possível combater alguns fatores de risco, muitos dos quais bastante indicados para afastar também outras doenças. Os principais são fumo, obesidade, vida sedentária, níveis elevados de colesterol e triglicerídeos e uso de hormônios, principalmente estrógenos (pílula anticoncepcional ou terapia de reposição hormonal).

Fonte: Sociedade Brasileira de Reumatologia

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